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#Exposed: uma hashtag, uma luta

  • Geovani Bucci e Caroline Priami
  • 27 de nov. de 2020
  • 14 min de leitura

Atualizado: 7 de fev. de 2021

Por Geovani Bucci e Caroline Priami


As histórias de assédio e abuso sexual que marcaram Maio de 2020


ATENÇÃO: POSSÍVEIS GATILHOS



“Eu não tinha controle sobre qualquer parte do meu corpo, então ele me deitou, tirou minha roupa e subiu por cima de mim e a única coisa que eu me lembro é eu ter perguntado para ele ‘tudo bem se eu não me mexer?’ e ele disse ‘tudo bem, eu só preciso que você fique paradinha mesmo.” - relato anônimo da hashtag #ExposedSãoPaulo, maio de 2020.

O Exposed é um termo utilizado para expor eventos traumáticos em formato de denúncia nas redes sociais. No primeiro semestre desse ano, uma hashtag com o termo viralizou no Twitter. Nos posts, jovens mulheres relataram, de forma detalhada, os abusos e assédios que sofreram nas mãos de homens, que muitas vezes, eram seus amigos ou namorados.


Cada cidade que aderiu ao movimento teve uma hashtag específica como #ExposedSãoPaulo por exemplo. Outros municípios como Marília, Joinville, Londrina, Curitiba, Porto Seguro e Aracaju também participaram. O assunto repercutiu e foi parar nos Trending Topics do Twitter, o que rendeu bastante visibilidade.


Sabrina*, Mylena* e Thaís* foram algumas das garotas que denunciaram seus abusos em maio deste ano.



Sabrina - 19 anos (ano do abuso: 2017)

Estudante de Rádio e TV e professora de inglês


“Tomara que pelo menos isso acabe logo”.


Ela queria ser feliz. Sentir-se viva. Depois de muito tempo presa em casa, queria se divertir. Sua mãe, severa e conservadora, não achava bom que ela saísse muito. Principalmente depois de descobrir que ela fumava cigarros. A superproteção, infelizmente, não protegeria Sabrina naquela noite.

- Amiga, vamos na Lusa? - convidou Vitória*, sua amiga.

A festa junina da Portuguesa, mais conhecida como Lusa, é um dos rolês mais hypados entre jovens pulsantes por curtição, bebida, alucinógenos e música alta. Um número esmagador de adolescentes emaranhados em meio a um gélido frio - afinal, é junho - e afundados até as canelas na lama viscosa em dias de chuva.

O grupo de amigas de Sabrina rapidamente encontrou outras meninas conhecidas. Esse outro grupo estava acompanhado de alguns garotos. Ela não os conhecia de verdade, apenas de vista. Ao seu redor, as pessoas riam, dançavam, vibravam durante o show e rebolavam congruentemente aos graves das amplas caixas de som. E então, Sabrina e um dos garotos trocaram um beijo.

Naquela noite, a garota de cabelos curtos e castanho-escuros chamada Sabrina sentia o sabor estridente do álcool que passava direto por sua língua, descia pela sua laringe e esôfago, e em pouco tempo começava a afetar o seu cérebro. Seus movimentos ficavam cada vez mais letárgicos e sua percepção sobre o que acontecia ao redor ficava cada vez mais reduzida.

- Vou no banheiro! - bradou subitamente.

- Eu vou com você. - disse uma voz masculina próxima a ela.

Sabrina sentiu um temor. Ela não queria que ele a acompanhasse. O desconforto se instaurou sobre seu coração. As coisas não estavam muito claras para ela. Será que tem realmente algum problema? Ela precisava muito ir ao banheiro. E o que poderia dar errado? Era o garoto do beijo só!

- Tudo bem, vamos então. - disse ao garoto, bêbada.

Ela entrou no banheiro químico, fétido e encardido com restos de resíduos corporais de terceiros. Ao olhar para trás, o garoto estava junto a ela lá dentro. Sabrina sentiu algo grudento em sua bochecha e sua boca. Eram beijos. Um pouco fora de si, Sabrina sentia um desconforto, mas não conseguia reagir. Não conseguia lutar. E então se conformou. “Já estou aqui mesmo” pensou ela.

Nesse momento, o garoto abriu o zíper e colocou o órgão genital para fora.

- Vamos voltar? - perguntou a ele.

- Não ‘véi’, fica mais. Fica mais!

Ela não estava bem. Sem forças para sair dali, Sabrina foi virada de costas. “Tomara que pelo menos isso acabe logo”, pensou.

Uma luz pairou no ambiente naquele momento. Sabrina então tentou dar um tapão para trás. Tinha certeza de que ele estava filmando enquanto abusava dela.

- Relaxa! É só o flash pra eu poder te ver.

O ato durou cerca de 15 minutos. Sabrina, sem se mexer muito, achava que foram 15 minutos, pelo menos. Bruscamente, alguém bate à porta e manda eles saírem aos berros. Ambos se vestem e voltam a festa.

Lágrimas quentes escorreram pelo rosto dela. Era um sentimento muito ruim que a contaminava. Era a culpa. “Eu fiz uma coisa que eu não queria. Eu não queria”, pensava. Ela não conseguia entender o porquê de ter deixado aquilo acontecer. Até hoje não entende.

Anos depois, relatou o que aconteceu na #ExposedSãoPaulo. Era o seu desabafo. Outras garotas estavam postando, ela queria postar também. Foram três anos de segredo. O trauma e a descoberta - através de um dos amigos dele - de que o garoto a tinha filmado e mandado para outras pessoas rendeu sequelas até hoje em dia. Isso a enfureceu na época, porém preferiu não tomar atitude.

Sabrina não consegue fazer sexo casualmente, apenas com pessoas com quem já mantém algum tipo de relação. Não consegue confiar. Entretanto, o tempo e o amadurecimento possibilitaram a ressignificação de alguns sentimentos complexos e ruins.

Se fosse uma amiga dela que tivesse sofrido, ela iria salientar que não é culpa dessa amiga. Mas, aconteceu com ela. Aquilo aconteceu com ela. “Quando é com a gente, é diferente.”

Certo dia, há poucos meses, Sabrina andava pela rua de sua casa. Logo a sua frente, ela reconheceu o garoto que abusou dela. Ele estava de mãos dadas com a namorada.

Sabrina atravessou a rua.


O movimento Exposed pode ser visto como algo empoderador que deu voz e incentivou outras mulheres a denunciarem os abusos sofridos também. Dessa forma, a internet pode ser um local onde as vítimas se sentem seguras para postarem seus relatos e pode servir como um “desabafo” diante da impunidade e violência. No entanto, para Adriana Cassetari, psicóloga clínica no Hospital Santa Marcelina e consultora do programa Hoje em Dia, da TV Record, o melhor caminho seria procurar um profissional de saúde e os órgãos competentes para realização tanto da escuta quanto do tratamento psicológico.


A exposição nas redes sociais de relatos de crimes deve ser feita com muita cautela, pois quem expõe - dependendo de como isto é feito - pode vir a cometer crimes de calúnia, difamação ou injúria, previstos nos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal, respectivamente. Segundo Adriana Filizzola D’Urso, advogada criminalista, mestre e doutoranda em Direito Penal pela Universidade de Salamanca, para que a vítima possa expor na internet seu relato sem ser prejudicada por isso, ela deve contar sua versão dos fatos, sem imputar falsamente a alguém fato definido como crime, sem imputar fato ofensivo a reputação de alguém e sem ofender a dignidade ou decoro de ninguém.



Ana Beatriz Schauff ativista feminista e organizadora do projeto MURA - Somos Muralha, afirma que as mulheres quando ouvem relatos de outras que passaram por uma situação semelhante, percebem que não estão sozinhas e tendem a fazer seus relatos também. “É preciso coragem para ir lá e contar sua história” diz Ana Beatriz. “Quanto mais falarmos, mais unidas e fortes nos sentimos.”

A ativista defende que um dos passos para acabar com esse problema social, é promover a união entre as mulheres para que elas se ergam, se protejam, se acolham e acreditem umas nas outras, fatos que vêm aumentando com os movimentos #Exposeds, #MeToo e com o MURA - Somos Muralha, projeto que oferece sessões de terapia em grupo gratuitas, com a mediação de psicólogos voluntários e vídeos semanais no Instagram que abordam temas como abuso emocional, com o objetivo de motivar a tomada de decisão de mulheres em relações de abuso.


O levantamento do Datafolha realizado em 2017 aponta números alarmantes: 5 em cada 10 adolescentes e jovens já sofreram assédio sexual no Brasil. Ao todo 56% das mulheres de 16 a 24 anos já passaram por esse tipo de situação, sendo a maioria dos casos na rua (29%), no transporte público (22%), no trabalho (15%), na escola (10%) e na própria casa (6%).


Para qualquer pessoa que sofreu assédio fazer a denúncia é preciso muita coragem, pois o medo e a vergonha são duas características frequentes. Outro fator que dificulta a denúncia por parte das vítimas é que - geralmente - os abusadores conseguem por meio de chantagem fazer com que a vítima não o denuncie.


A advogada diz que algumas vítimas enfrentam uma dificuldade para denunciar imediatamente o ocorrido e só relatam depois de um tempo, fazendo com que as provas fiquem mais escassas, e completa afirmando que a principal prova acaba sendo apenas a palavra da vítima, que tem especial credibilidade nestes tipos de crime, mas que pode acabar ficando frágil se não estiver amparada por mais nenhuma evidência. “Em nosso sistema penal vigora o Princípio da Presunção de Inocência. Quando não há prova suficiente, na dúvida, o indivíduo deve ser presumido inocente e ser absolvido”, diz Adriana.

As penas para os crimes de importunação sexual e estupro são diferentes. O crime de importunação sexual, previsto no artigo 215-A do Código Penal, ocorre quando a pessoa pratica contra alguém - sem a anuência do outro - o ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou de terceiro e neste caso, a pena é de 1 a 5 anos de reclusão. Para crime de estupro, previsto no artigo 213 do Código Penal, a pena é de reclusão de 6 a 10 anos e para ficar caracterizado o estupro, há necessidade de se constranger alguém a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.


Adriana Filizzola afirma que uma pessoa que venha a ser vítima de algum desses crimes (e outros não citados, como o de assédio sexual e estupro de vulnerável, por exemplo), deve procurar a autoridade policial o quanto antes para dar início à investigação. “Quanto mais cedo a vítima venha a tomar as providências, mais preservadas estarão as provas do crime, por isto é importante a imediata denúncia”, diz a advogada.


Segundo Adriana Cassetari, nos casos de abuso, as vítimas começam a ter comportamentos atípicos. “Se calam, se deprimem e possuem choro fácil, além de comportamentos agressivos para se protegerem”, diz. Quando perguntada sobre como a família e amigos próximos podem dar apoio à vítima, a psicóloga diz que o respeito com a vítima é fundamental, além de muita paciência e cuidado ao abordar o ocorrido. “Mostre que você é uma pessoa que ela pode confiar e que vai caminhar com ela em busca de uma melhora”, pontuou.



Mylena - 19 anos

Estudante de Publicidade e Propaganda e Influenciadora Digital


“Quando acontece com você, você fica cega e não percebe o que está acontecendo”.


Subitamente, seu smartphone lança um singelo feixe de luz. Ela percebeu, mas estava completamente distraída em seus próprios pensamentos para ver do que se trata. Ela fez o que achava certo. Mas, assim que lê o nome escrito na caixa de mensagens, sente uma aflição.

Sensações palpáveis de agonia, confortabilidade pairada por hostilidade e uma saudade que não era sentida há muito tempo dominaram o seu corpo. Lembrava-se das mãos que um dia lhe deram carinho, as mesmas que também digitaram e a ridicularizaram por meio de um xingamento e uma foto no Twitter como retaliação após ter sua independência reivindicada.

Quando tudo começou, era perfeito. Há anos, Mylena se considera feminista, consciente da mulher que é. Mas, não conseguia ser tão esperta quando estava com Felipe*. A forma com que seu namorado escolhia as roupas que ela vestia só não era mais sutil do que a forma gradativa com que ela se afastava da própria mãe e das melhores amigas.

- Você não vai colocar uma blusa? Vai passar frio com esse shorts! - dizia ele.

Todo mundo tem que ter uma base, um porto seguro. A de Mylena era Felipe.

Era o seu primeiro grande amor. Nunca havia vivenciado um relacionamento, sentido o peso da constância de um relacionamento tão longo. Felipe, por sua vez, já havia vivido três namoros. Mylena já tinha visto ele ser muito grosso com uma de suas ex-namoradas. No entanto, ele era o homem da sua vida, com certeza não era nada demais. Eles iriam até casar um dia, afinal.

Mylena acreditava que algumas atitudes eram comuns. Coitadas dessas meninas que tem namorado que não deixa usar shorts, que sofrem de um relacionamento abusivo.

“Quando acontece com você, você fica cega e não percebe o que está acontecendo”, essa a frase a qual pensa sempre que lembra de seu relacionamento.

Aos poucos, foi coletando alguns detalhes e apesar do sentimento, não conseguiria continuar com ele. E foram diversos os momentos em que tentou estabelecer um ponto de concordância entre eles, mas Felipe dizia toda vez que ia mudar e tudo seguia plenamente da mesma forma. Chegava até a implorar para que não houvesse um término.

Um dia, Mylena conseguiu terminar por WhatsApp, enfim. Entretanto, havia algo em Felipe que ainda a prendia e eles voltaram a se ver.

- Acorda! Acorda! - berrava Felipe no meio de uma noite.

Levou alguns instantes até ela entender o que estava acontecendo, pois estava num sono muito profundo e foi acordada. E então, deparou-se com ele segurando o celular dela e extremamente raivoso.

- Quem é esse cara?! - perguntou o rapaz.

Subitamente, Felipe a agarrou com as mãos e a arremessou contra a parede. Ela bateu a nuca na parede e ficou um tanto zonza. Os berros dele a desnortearam. Mylena, desesperada, queria ir embora. No entanto, o rapaz, que era a mais forte, a prendia.

- Me dá a sua chave. Você vai ficar aqui! Não vai sair mais, vagabunda!

A mãe de Felipe entra no quarto nesse exato momento. Estarrecida com tudo o que havia acontecido, decidiu levar a garota para casa.

Passaram-se meses. Ela não manteve mais contato com o ex-namorado.

No momento que o movimento Exposed estava acontecendo, Mylena observou que muitas meninas estavam se unindo e se apoiando para denunciar o que haviam passado nas mãos de vários homens. E isso deu um sentimento muito bom de sororidade.

Ela sempre acreditou que podia ajudar as pessoas devido ao seu apurado senso de justiça. Sentia-se bastante forte e queria compartilhar essa força. Não foi à toa que a estudante de publicidade acabou se envolvendo na criação de um grupo em que as garotas se reuniram para conversar sobre os abusos e fazer uma lista de nomes para a própria proteção. A frase “se eu sou amiga do seu agressor, me avise” estava sendo bastante compartilhada e ela queria fazer parte disso.

Felipe havia contado a sua história para todos retratando Mylena como uma pessoa ruim, até que todos os amigos deles pararam de falar com ela. Nada mais justo que contar a sua versão da história também, certo?

Pouco depois de postar, viu a mensagem dele na caixa de mensagens do WhatsApp. Ela tentou ser fria ao responder, como havia tentado há muito tempo quando terminou o relacionamento. Dessa vez ela conseguiria, apesar de sentir muito carinho e de todo o amor envolvido. Agora, ela era uma mulher livre.



Ana Beatriz Schauff, ressalta que todas as mulheres podem se encontrar em um relacionamento abusivo, mas geralmente as mulheres que são dependentes financeiramente tendem a se submeterem mais e a ficarem mais presas a situações de abuso. Nesses casos, quando a família e amigos próximos passam a reconhecer a situação, quer dizer que saiu um pouco do controle.



Para darem apoio, Schauff diz que quem está ao redor não pode diminuir a situação da vítima e nem naturalizar o relato. “A mulher abusada precisa de força, precisa sentir que tem apoio. A manipulação psicológica é forte e ela não acha que será feliz fora daquela relação, por isso amigos e familiares precisam lembrá-la que ela não está sozinha” diz.


Os relacionamentos abusivos sempre estiveram presentes na vida de algumas mulheres, porém se intensificaram durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU), nos últimos 12 meses, 243 milhões de mulheres e meninas de 15 a 49 anos no mundo todo foram submetidas à violência sexual ou física por algum parceiro íntimo.


Conforme a pandemia continua, a violência contra mulheres e meninas (especialmente a violência doméstica) se fortalece. No Brasil e na França, as denúncias aumentaram em 50% e 30% - respectivamente - durante a pandemia, e na Argentina as ligações emergenciais cresceram em 25%, segundo dados analisados de março pela ONU.


De acordo com a mesma pesquisa, menos de 40% das mulheres vítimas de violência buscavam qualquer tipo de ajuda ou denunciavam o crime e menos de 10% das mulheres que procuravam ajuda, iam à polícia. O secretário-geral da ONU pediu para que todos os governos façam com que a prevenção e reparação da violência contra as mulheres seja parte essencial de seus planos nacionais de resposta à Covid-19.


É necessário pontuar que existem algumas formas de denúncia, como aplicativos e canais de apoio e proteção da mulher, como o 180, que é a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência e o e-mail ligue180@spm.gov.br.



Thaís - 21 anos (ano do abuso: 2018/2019)

Estudante de Jornalismo


“Eu tinha medo dele. Ainda tenho”.

João Victor* era um cara agressivo, dono de um ciúme excessivo e problemas psicológicos graves que poderiam gerar riscos ainda maiores para Thaís. Nunca a agrediu, mas não foi por falta de ameaças. Quando ela fazia alguma coisa que ia contra o gosto possessivo do namorado, ele terminava o relacionamento. Thaís já tinha perdido as contas de quantas vezes isso já tinha acontecido.

Ela se considera uma mulher forte, extrovertida e sobretudo empática. Sempre acreditava no melhor dele. Em julho 2019, o casal viajou com alguns amigos. Thaís adora um bom papo para fazer jus a sua personalidade comunicativa e foi conversar com um amigo de João Victor. O seu namorado, desconfiado, ficou boa parte da conversa observando os dois.

- Se algo acontecer entre vocês, eu quebro você e ele - disse João Victor com raiva no ouvido dela.

Thaís é uma pessoa calma. Ou era. Desde esse dia, ela não se sentiu mais segura em ficar perto dele. A estudante logo começou a enxergar o relacionamento com outros olhos, mas algo a impedia de terminar. Talvez o medo de que algo com ele pudesse acontecer, uma vez que ele já tinha ameaçado se matar várias vezes, ou até mesmo com ela.

Num dia em que a estudante criou coragem e pediu para terminar, João Victor foi explosivo. Na verdade, ele era uma pessoa explosiva. Ele surtava, jogava no chão o que via pela frente, batia na parede e depois de alguns minutos, fingia que nada havia acontecido. Com medo de mais ataques e surtos assim, ela voltava atrás em sua decisão.

Thaís, felizmente, lidou muito bem com as situações de abusos que sofreu antes de namorar João Victor, fossem físicos ou psicológicos. Assim como Sabrina e Mylena, Thaís sente que o pior para ela de toda essa situação foi perceber que como ela, uma mulher empoderada e que sabe diferenciar certas atitudes, caiu em um relacionamento que ela sempre se esforçou para não deixar suas amigas caírem.

Não demorou muito para superar o relacionamento abusivo que viveu. Ela já tinha superado o término do namoro antes mesmo de terminar. Ela só o namorava ainda porque tinha medo do que poderia acontecer com ela. Mas, o fato deles morarem longe um do outro foi um fator que contribuiu. Ele mora em Jundiaí e ela em Santo André. Ela não precisaria mais vê-lo.

Thaís, ao longo de 2019, passou por vários momentos de reflexão sobre seu namoro, e um deles, foi durante um churrasco com as suas amigas em que estava sem o namorado.

Num grupo de WhatsApp, um dos amigos de João Victor mandou uma brincadeira relacionada a tamanho de bananas. Thaís riu. O namorado então mandou uma mensagem alertando que ela estava dando muita risada e que deveria parar.

Em seguida, João Victor começou a mandar mensagem para ela falando que ia se matar se ela não saísse imediatamente do churrasco para encontrá-lo, tudo isso por ciúmes do churrasco em si e da brincadeira.

Naquele dia, várias amigas dela começaram a comentar que esses eram sinais de um relacionamento abusivo. Aos poucos, ela se deu conta.

Suas amigas fizeram a diferença e a união delas para protegê-la a fez despertar.




As mulheres não aprendem desde pequena o que é sororidade, pelo o contrário: a cultura patriarcal pressiona elas a se encaixarem em padrões para serem “mais bonitas”, "mais desejáveis". "boas para casar", fortalecendo o clima de competição e julgamento. “Devemos contratar mais mulheres, dar mais voz umas às outras, sorrirmos umas para as outras. O exercício é diário, mas é totalmente possível.”


Schauff ressalta que o simples fato de elogiar uma mulher, oferecer ajuda se um bebê está gritando e a mulher precisa pagar as compras, não se calar diante de uma agressão verbal contra uma mulher e acreditar nela quando disser que está sofrendo assédio ou abuso - por exemplo -, já fazem uma grande diferença para a evolução como sociedade.


Foi exatamente esse tipo de atitude que fez com que Sabrina, Mylena e Thaís adquirissem consciência da realidade tóxica em que viviam ou atitudes abusivas que sofreram. Elas não apenas superaram o que passaram, mas também sentiram-se empoderadas o suficiente para denunciar na #Exposed, servindo como uma espécie de exemplo, segundo elas mesmas, e auxiliando outras mulheres que passam pela mesma situação. É esse o significado de sororidade, afinal.




*Os nomes foram alterados para proteger a identidade e a segurança das vítimas.



 
 
 

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